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Inflação

  • Foto do escritor: Redação
    Redação
  • 1 de nov. de 2024
  • 4 min de leitura

A inflação no Brasil, observada ao longo de 2024, reflete a pressão de diversos fatores globais e locais que impactam os preços ao consumidor, especialmente nas áreas de combustíveis, alimentos e commodities agrícolas. No setor de combustíveis, a alta dos preços internacionais do petróleo, impulsionada pela instabilidade geopolítica e pela demanda internacional, teve efeito direto sobre o preço da gasolina e do diesel. Em função disso, a Petrobras projeta reajustes, que impactam toda a cadeia de transportes e logística, aumentando os custos de produtos finais. Esse cenário foi agravado pela valorização do dólar, que, ao encarecer as importações, intensificou o impacto nos preços de bens essenciais e no custo de vida no país​.

A alta nos preços de alimentos foi exacerbada por questões climáticas, com eventos de seca e geadas nas principais regiões produtoras, como o Centro-Oeste e o Sudeste, prejudicando culturas como o milho e a soja. O milho, utilizado também na alimentação de animais, vê seu custo aumentar, o que eleva o preço das proteínas de origem animal. Além disso, a seca afetou a produção de cana-de-açúcar, pressionando o preço do açúcar, enquanto o trigo, apesar da oferta estável, ainda sofre influências dos altos custos de transporte e produção. Produtos como café e arroz, importantes na cesta básica, também registraram altas, consequência da menor oferta e da maior volatilidade no câmbio​.

Outro componente importante foi o custo dos fertilizantes, em grande parte importados. Com o aumento no preço de insumos como gás natural e as sanções sobre países exportadores de fertilizantes, a agricultura nacional passou a enfrentar desafios ainda maiores para manter a competitividade e suprir a demanda interna. A previsão é que, com o aumento de custo nos setores de transporte, alimentação e combustíveis, a inflação continue a pressionar o poder de compra da população, impactando especialmente as famílias de baixa renda, que destinam maior parte do orçamento a esses produtos essenciais​.

A falta de políticas públicas consistentes para reduzir a dependência externa de insumos essenciais e para fortalecer a produção interna no Brasil contribui para a vulnerabilidade da economia a choques externos, especialmente em setores como energia, alimentos e fertilizantes. O Brasil, embora tenha uma das maiores reservas de petróleo do mundo, depende fortemente do mercado externo para suprir a demanda por combustíveis refinados. Atualmente, grande parte do petróleo é exportada, e o país importa volumes significativos de gasolina e diesel, o que expõe os preços internos às flutuações do mercado internacional de petróleo. A escassez de capacidade de refino no Brasil é um entrave estratégico, pois significa que o país não aproveita plenamente seus recursos e permanece vulnerável a crises de oferta e variações cambiais​.

No setor agrícola, a dependência de fertilizantes importados também é uma questão estrutural que impacta diretamente o custo de produção. O Brasil importa cerca de 85% dos fertilizantes que consome, com uma grande parte vindo de países sujeitos a instabilidades geopolíticas, como a Rússia e a Bielorrússia. Esse fator encarece a produção agrícola e torna o setor mais suscetível a choques externos. Embora o país tenha potencial para a produção de fertilizantes, como recursos de potássio e fosfato, faltam investimentos públicos e privados para desenvolver a indústria local. Isso limita a capacidade de reduzir a dependência de importações e enfraquece a segurança alimentar interna​.

Adicionalmente, o uso do Nordeste para expandir a produção agrícola poderia aliviar a pressão sobre outras regiões já sobrecarregadas, mas a falta de infraestrutura, como sistemas de irrigação, apoio técnico e incentivos fiscais, impede que essa região atinja seu potencial produtivo. Políticas de incentivo à agricultura sustentável e ao uso de tecnologias adaptadas ao clima semiárido poderiam transformar o Nordeste em uma área de alta produtividade para culturas adaptadas, como a palma forrageira e o sorgo, mas essa abordagem ainda é limitada.

A persistente ausência de políticas públicas robustas que promovam a independência produtiva do Brasil demonstra a falta de uma visão estratégica por parte do governo. Sem incentivos adequados para a construção de novas refinarias, a indústria de refino de petróleo permanece subutilizada, limitando a capacidade do país de refinar seu próprio petróleo. Isso não só deixa o Brasil à mercê dos preços globais de combustíveis como também aumenta os custos de logística, que são repassados ao consumidor final. Esse modelo de exportação de petróleo bruto e importação de combustíveis refinados é financeiramente ineficaz e vulnerabiliza a economia doméstica, particularmente em momentos de crise energética global.

Além disso, a falta de uma política agrícola que potencialize a produção no Nordeste e o desenvolvimento de uma indústria nacional de fertilizantes destaca a negligência governamental quanto à autossuficiência agrícola. Mesmo diante da capacidade de expandir o cultivo em regiões semiáridas e da disponibilidade de reservas minerais para a produção de fertilizantes, o governo não investiu de forma eficaz em infraestrutura e incentivos para o setor. Isso não apenas aumenta a dependência de insumos agrícolas importados, sujeitos a oscilações de preço e limitações de fornecimento, mas também eleva o custo de produção e impacta diretamente a inflação de alimentos, afetando principalmente as famílias de baixa renda. Dessa forma, a falta de políticas estratégicas eficazes resulta em uma inflação estruturalmente elevada e em uma população cada vez mais vulnerável aos impactos econômicos globais.


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